Panorama da Bíblia (em uma página)

A história das criaturas tem como pano de fundo a história do Criador com a totalidade da criação. Esta é a verdadeira história. A história da luta de classes (perspectiva marxista), da desigualdade de gêneros (perspectiva feminista), da opressão imperialista, ou qualquer outra história são todas narrativas menores diante da narrativa maior. Estas narrativas menores só encontrarão significado e resposta na história do Criador com a sua criação. Esta história é narrada na Bíblia e consta de vários capítulos:

1) CRIAÇÃO (Gn 1-2). O SENHOR Deus cria todas as coisas, e cria tudo “muito bom” (Gn 1.31). O SENHOR cria do ser humano à sua imagem e semelhança, para que fosse seu mordomo na criação, expressando a imagem e semelhança de Deus no governo de todas as coisas. O SENHOR nos criou em total harmonia: teológica (com Deus), psicológica (consigo mesmo), sociológica (com o próximo), ecológica (com toda a criação). O dever do ser humano no governo concedido por Deus na criação é desfrutar e proteger a criação (Gn 2.15), tendo como alvo não apenas o bem estar do ser humano e todas as demais criaturas, mas acima de tudo a GLÓRIA DE DEUS. O próprio domínio do ser humano deve ser a expressão do REINADO DE DEUS sobre todas as coisas, para a GLÓRIA DE DEUS.

2) QUEDA (Gn 3-11). O ser humano foi criado por Deus, tinha comunhão com Deus e ouviu a Palavra de Deus, cujo mandamento era simples: “não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal”. Mas a serpente despertou no ser humano a incredulidade (não confiar em Deus e na Sua Palavra), que teve como fruto a desobediência (pecado). Nós caímos na fé em Deus, e precisamos levantar de onde caímos. O pecado foi a porta de entrada para todas as crises da humanidade: teológica (com Deus), psicológica (consigo mesmo), sociológica (com o próximo), ecológica (com toda a criação). É por isso que, de modo geral, as pessoas sabem que há algo de errado com o mundo, mas não conseguem explicar exatamente o que. O domínio de ricos sobre pobres, a desigualdade de gênero, a opressão étnica (“raças”), os distúrbios mentais e emocionais, enfim, todas estas crises tem como origem a crise fundamental na relação com o Deus Criador, que teve origem na incredulidade e na consequente desobediência.

3) ISRAEL (Gn 12-Ml 3). O Deus Criador é Amor (1Jo 4.8). Por isso, não abandonou a sua criação ao mal. O SENHOR é o Rei e nunca deixou de sê-lo. Por isso, o projeto do Reino de Deus é um projeto de Amor, de Restauração, de Justiça e de Paz. O ser humano pecou, e Deus chama o ser humano para ser seu colaborador na missão do próprio Deus, de restaurar todas as coisas. Por isso, Deus chama Abraão (Gn 12.1-3). O chamado de Deus para Abraão inclui a criação de uma grande nação (Israel), para que todas as famílias da terra fossem abençoadas. Abraão gera Isaque, que gera Jacó, que gera José e seus irmãos, que dão origem às 12 tribos de Israel, que ao final do Gênesis estão vivendo no Egito. O SENHOR liberta Israel da escravidão no Egito por meio de Moisés, e faz com este povo uma aliança (Ex 19), confirmando a aliança com Abração. De Ex 19 a Nm 10.10 (Perícope do Sinai), Deus dá à Israel tudo o que precisa para viver na sua presença e cumprir o seu chamado: os mandamentos de Deus, o tabernáculo (que abrigava a Arca da Aliança), o sacerdócio e os sacrifícios. Após conquistar a terra prometida, o povo pede para si um rei, e após dar ao povo um rei segundo o coração do povo (Saul), Deus concede à Israel um rei segundo o seu coração (Davi), para o qual promete um descendente que seria chamado de Filho de Deus, que reinaria para sempre e que edificaria um templo ao SENHOR (2Sm 7.1-17). Mas Israel não andou segundo a vontade do SENHOR, e o reino de Israel, após ser dividido, foi destruído no Norte pelos Assírios e no Sul pelos Babilônios, sempre diante do protesto e da denúncia dos profetas do SENHOR. Israel fracassou no chamado e quebrou a aliança com o SENHOR (Jr 31.31-34). Assim termina o Antigo Testamento: no Exílio, expressão das crises trazidas pelo pecado.

4) JESUS (Mt-Jo). Mas a história de Israel é conduzida à vitória por meio de Jesus de Nazaré, filho de Abraão, filho de Davi (Mt 1.1). O Filho de Deus se fez homem (encarnação), viveu uma vida perfeita de amor, perdão e justiça, completamente sem pecado, morreu na cruz pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa salvação. Ele é o verdadeiro tabernáculo, o verdadeiro Sumo-Sacerdote, o Sacrifício Perfeito. Ele é a Palavra de Deus encarnada. Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, o Filho de Davi que reina para sempre, cujo reinado não tem fim. Nele, todas as promessas de Deus encontram o seu SIM, a sua confirmação, o seu cumprimento. Ele não veio apenas para salvar almas, mas para reconciliar consigo todas as coisas (2Co 5.19). Após a sua morte na cruz do Calvário e a sua Ressurreição ao terceiro dia, Ele sobe aos céus, se assenta à direita do Pai para reinar, e intercede juntamente com o Espírito Santo pelos filhos e filhas de Deus.

5) IGREJA (At 1-Ap 20). Após subir aos céus, Jesus envia aos seus discípulos o Espírito Santo, durante a festa judaica do Pentecostes, que acontecia 50 dias depois da Páscoa. Ao enviar o Espírito Santo aos discípulos, Jesus edifica a Igreja, seu Corpo, seu santuário. A Igreja é a comunidade de discípulos chamada por Deus para a Missão de Deus. Jesus chama a sua Igreja: “Toda a autoridade me foi dada no  céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.18-20). Nosso chamado é sermos discípulos de Jesus que fazem discípulos de Jesus. Estamos entre o Pentecostes e a Nova Criação. Na cruz e na ressurreição de Jesus, todos os inimigos de Deus já foram derrotados por Cristo, mas ainda não foram destruídos. Este é o período em que a igreja, como comunidade de discípulos de Jesus, é chamada a pregar o Evangelho, a Boa Nova da Salvação em Cristo Jesus, a todas as nações.

6) NOVA CRIAÇÃO (Ap 21-22). Quando Jesus voltar, os mortos em Cristo ressuscitarão e, juntamente com os vivos em Cristo, serão todos levados diante de Deus (1Ts 4.13-18). Deus então vai julgar os vivos e os mortos (o que exclui a Igreja – Jo 3.16-18)), e trará Novos Céus e Nova Terra, em que habitam a justiça (Ap 21.1-22.5). Quando tudo estiver consumado, Deus será tudo em todos! (1Co 15.28).

Para saber mais:

CARRIKER, Timóteo. A Visão Missionária na Bíblia: Uma história de amor. Viçosa: Ultimato, 2005.

BARTHOLOMEW, Craig G. e GOHEEN, Michael W. O Drama das Escrituras: encontrando nosso lugar na história bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2017.

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