O SACRAMENTO DO BATISMO
O SACRAMENTO DO BATISMO
INTRODUÇÃO
Cremos
que Jesus ordenou apenas dois sacramentos: o Batismo (Mt
28.18-19) e a Ceia do Senhor (1Co 11.23-26). Segundo já ensinava
Calvino, o sacramento é sempre ordenado por Cristo e deve compreender a Palavra (promessa de Deus) e o sinal externo
ou elemento (água, pão, vinho). O sacramento é um meio de graça, não no
sentido de garantir nossa salvação, mas no sentido de fortalecer a nossa fé
salvadora. Do mesmo modo que a Palavra de Deus pregada é um instrumento de
edificação, o sacramento é a Palavra de Deus comunicada por palavra, gestos,
símbolos e sinais.
No
Antigo Testamento, os judeus tinham também algo semelhante a dois sacramentos
fundamentais, que correspondem aos sacramentos da Nova Aliança: a circuncisão,
que corresponde ao Batismo (conforme Cl 2.11-12), e a celebração da Páscoa, que
corresponde à Ceia do Senhor (conforme Mt 26.17-30; Mc 14.12-26; Lc 22.1-20).
O
Batismo foi ordenado pelo Senhor (Mt 28.18-19) e é ministrado para
arrependimento e perdão dos pecados (At 2.38). Isso não significa que o batismo
é que garante a salvação de alguém, mas que o batizado deve, tanto no batismo
quanto em toda a sua vida de batizado, se
arrepender de seus pecados, descansando na promessa de Deus de que somos
perdoados em Cristo (1Jo 2.12) e dEle revestidos (Gl 3.27), feitos povo de
Deus.
O
Batismo é também “sinal e selo da salvação”. Os Reformadores afirmavam que o
Batismo é selo da salvação, tendo em mente uma antiga imagem: a do selo real. Quando o rei enviava uma
carta, ele a lacrava com um selo de cera com a marca de seu anel. Este selo
garantia a legitimidade da mensagem. Da mesma maneira, a salvação vem pela
graça de Deus, mediante a fé em
Cristo Jesus , mas o sacramento do Batismo é o selo desta
salvação. Neste sentido, não é o Batismo que salva, pois o que salva é a graça
de Deus, mediante a fé em
Cristo. O Batismo é o selo, ou seja, testifica a
autenticidade da graça de Deus . Os adultos que crêem em Cristo são conduzidos
pela Palavra de Deus e pelo Espírito de Deus ao batismo, e também são
conduzidos a batizarem seus filhos menores, se comprometendo a ensiná-los a
conhecer e praticar a Palavra de Deus, a amar a Deus, a amar a Igreja de Deus,
amar toda a humanidade e amar toda a criação de Deus.
Os
sacramentos são fundamentais, pois devem estar presentes na vida de todos os
salvos. O batismo é o sacramento que marca a entrada na nova aliança de
Cristo, de modo que todos os salvos devem ser batizados.
1) TRÊS TIPOS DE BATISMO
Para
entender o batismo cristão é necessário entender, em primeiro lugar, a
diferença de outros dois batismos existentes na época do Novo Testamento,
testemunhados pela Bíblia. Em Hebreus é dito que faz ´parte dos princípios
elementares da doutrina de Cristo´ o ´ensino de batismos e a imposição de mãos´(Hb
6.2). Segundo o Novo Testamento há três tipos fundamentais de batismo: o
batismo judaico de prosélitos (recém-convertidos ao judaísmo), o batismo de
João Batista e o batismo cristão. Vamos conhecer um pouco melhor a diferença de
cada um.
a) O batismo dos judeus. Os judeus já batizavam antes da Igreja e antes de João
Batista. Isto fica muito claro em Jo 1.25, passagem bíblica onde os judeus
perguntam para João Batista: ´Então, por que batizas, se não és o Cristo, nem
Elias, nem o profeta?´. Logo, os judeus
sabiam o que era o ´rito´ do batismo. Os judeus não perguntam: `o que é
isto?´, ou ´que rito religioso é este?´, mas sim ´por que batizas...´. Os
judeus batizavam gentios (não judeus) que aderiam à religião judaica.
Os recém-convertidos à determinada religião são chamados de ´prosélitos´ (Mt
23.15; At 2.11; At 6.5; At 13.43).
b) O batismo de João Batista. O batismo dos judeus é
diferente do batismo de João Batista, e a mesma pergunta de Jo 1.25 serve
para demonstrar: João Batista não batizava gentios, mas apenas judeus! Segundo
Mc 1.3, João é o enviado de Deus para preparar o caminho do Senhor, para
preparar Israel para o Messias (Mc 1.3). Seu batismo de arrependimento para
remissão dos pecados é um batismo de arrependimento aos judeus da antiga aliança,
para se prepararem para a chegada de Jesus, para a vinda do Messias. Quando
João Batista começou a batizar judeus, é como se ele estivesse dizendo o
seguinte: ´vocês têm vivido como gente que não conhece a Deus, como gente que
não está vivendo a aliança de Deus!´.
Outro texto bíblico importante sobre a distinção
do batismo cristão e do de João é Mt 3.11-12:
11 Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois
de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele
vos batizará com o Espírito Santo e com
fogo. 12 A sua pá, ele a
tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá
o seu trigo no celeiro, mas queimará
a palha em fogo inextinguível´.
Neste texto, João faz referência a duas coisas
diferentes: uma é o batismo com o
Espírito Santo, que corresponde a guardar
o trigo no celeiro; outra coisa é o batismo com fogo, que corresponde a queimar a palha em fogo inextinguível.
Portanto, com estas palavras, João Batista afirmava aos seus ouvintes judeus o
seguinte: arrependam-se, pois o Messias é tanto o salvador que veio para
cumprir as promessas de Deus quanto o juiz escatológico, que vai julgar os
incrédulos e infiéis!
Fica
claro que o batismo de João é provisório: é uma preparação. Ele
não é definitivo; não é um sacramento. E é recebido apenas por judeus
da antiga aliança, e não por gentios.
c) O batismo cristão. Fica clara a diferença
do batismo de João Batista com o cristão, principalmente em textos bíblicos
como Mc 1.1-4 e At 19.1-7. João deixa clara a distinção do batismo cristão: ´Eu
vos tenho batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo´ (Mc
1.8). Portanto, o batismo cristão se distingue do batismo de João pelo dom do
Espírito Santo. Sobre esta diferença alguém poderia questionar: ´mas Jesus não
recebeu o dom do Espírito no batismo de João?´. Sim e não! Sim, Jesus recebeu o
dom do Espírito no contexto do
batismo de João, mas não, não foi por
causa do batismo de João. E as razões são as seguintes: a) Se o batismo de
João correspondesse ao dom do Espírito, os demais batizados receberiam o dom do
Espírito e o Pentecostes (descida do Espírito aos judeus, conforme At 2) já
teria acontecido antes da morte e ressurreição de Cristo; b) Jesus recebe o dom
do Espírito pelo chamado do Pai no
momento do batismo, e não por causa
do batismo de João (cf. Mc 1.8-12)!. Isto fica claro pela expressão ´em
quem me comprazo´, citada em Mc 1.9-12 de Is 42.1, o primeiro dos quatro
cânticos do servo no livro de Isaías (Is 42.1-4; 49.1-6; 50.4-9; 52.13-53.12).
Portanto, Jesus recebe o Espírito durante o batismo de João, mas não por causa do batismo de João em si,
mas por causa do seu chamado pelo Pai para a missão de servo sofredor de Deus,
que levaria sobre si os nossos pecados (cf. Is 42.1-4; Is 52.13-53-12). Assim,
fica claro que o batismo cristão pressupõe a missão de Jesus, o servo sofredor
de Deus, de morrer pelos nossos pecados, bem como ressuscitar para a nossa
salvação! Sem a paixão de Cristo não
poderia haver batismo cristão! É apenas depois que Cristo ressuscita dentre
os mortos que o Pentecostes pode se realizar (Mt 28.18-20; Jo 16.7; At 1.1-8).
Outra diferença é que o batismo cristão é realizado em nome de Jesus ou em nome
da Trindade (Mt 28.19; At 2.38; At 10.48).
Assim,
concluímos que o batismo cristão é um sacramento ordenado por Cristo, ao
contrário do batismo dos judeus ou o batismo de João Batista. Ele é ministrado
em nome da Trindade. Outra diferença é que o batismo cristão está ligado ao dom
do Espírito – o que não era o caso dos outros dois batismos.
2) O BATISMO CRISTÃO E O ESPÍRITO SANTO
Vamos agora estudar mais
detalhadamente a relação entre o Espírito Santo e o batismo cristão.
É
interessante estudar o livro de Atos dos Apóstolos e verificar a relação
apresentada entre o batismo e o dom do Espírito, principalmente os ´três
pentecostes´ de Atos dos Apóstolos (o pentecostes judeu em At 2; o pentecostes
samaritano em At 8; o pentecostes gentio em At 10), bem como no batismo de ´discípulos
de João Batista´ em At 19.1-7.
Em
At 2.38, Pedro afirma que a seqüência normal na vida cristã é a seguinte: a)
arrependimento; b) batismo; c) dom do Espírito. Em At 8, os samaritanos,
ouvindo a pregação de Filipe, a) se arrependem; b) são batizados; c) recebem o
Espírito Santo. Em At 10, os gentios: a) se arrependem dos seus pecados; b)
recebem o dom do Espírito Santo; c) são batizados. Em At 19.1-7, antigos
discípulos de João Batista: a) se arrependeram; b) foram batizados no batismo
de João; c) são batizados no batismo cristão; d) recebem o dom do Espírito.
Assim, podemos chegar às seguintes conclusões:
1) O livro de Atos dos Apóstolos
afirma que a ´ordem natural´ na vida cristã é: i) arrependimento pela Palavra
de Deus; ii) batismo cristão; iii) recebimento do dom do Espírito. O caso de At
10 é uma exceção no livro de Atos, mas
exceções confirmam a regra; 2) O batismo cristão é completamente diferente
do batismo de João Batista, não necessariamente na forma, mas no conteúdo (batismo
no nome de Jesus ou da trindade e dom do Espírito); 3) Atos dos Apóstolos
estabelece uma relação clara entre o sacramento do batismo cristão e o dom do
Espírito: o batismo cristão conduz ao Espírito e o Espírito conduz ao batismo
cristão, de modo que não podemos querer separar o sacramento do batismo e o dom
do Espírito: os dois devem caminhar juntos.
O
batismo cristão e o dom do Espírito estão intimamente ligados. No Evangelho
segundo João, Jesus afirma que é necessário nascer da água e do Espírito, ou
seja, do sacramento (água) e do Espírito (Jo 3.5).
Há
também uma confusão muito grande em nossos dias com a expressão ´batismo no
Espírito´. Todo aquele que crê em Cristo e foi batizado recebeu o dom do
Espírito. Todo salvo é habitação do Espírito. At 4.31 é dito que ´tendo eles
orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez,
anunciavam a palavra de Deus´. Sobre este texto é necessário entender que: 1)
Todos aqueles que ficaram cheios do Espírito Santo já eram batizados e já haviam recebido o dom do Espírito; 2) A
experiência de estar cheio do Espírito tem como fim a intrepidez no anúncio da
Palavra de Deus, e não a vaidade pessoal (conforme At 1.8). Portanto, todo aquele que crê em Cristo e foi
batizado é batizado com o Espírito Santo. E todo salvo deve em tudo buscar a
vontade de Deus, para buscar sempre estar cheio do Espírito. É um erro
muito grande pessoas que já receberam o Espírito ficarem buscando ´um novo
batismo´. Ao contrário do batismo de João, o batismo cristão é definitivo. Quem já foi batizado não precisa ser
batizado novamente.
É
comum ouvirmos que o batismo bíblico é o "batismo nas águas",
expressão que é usada por alguns como sinônimo de "por imersão". Na
verdade, o Novo Testamento cita vários exemplos de batismo por aspersão: At
9.17-19; At 16.28-34; At 10.44-48. Em todos esses casos, o batismo aconteceu em
casas dentro da cidade, onde não havia piscina. Portanto, como o texto dá a
entender, estes batismos não foram por imersão, mas por aspersão. Além
disso, mesmo no caso do batismo de João Batista, que acontecia "nas
águas", não significa necessariamente que seja por imersão, pois as
ilustrações conhecidas mais antigas que retratam o batismo, ainda na época da
igreja antiga, mostram o batismo dentro da água, mas com um detalhe: o batizado
não é mergulhado, mas fica em pé dentro do rio, e é batizado por aspersão!
Outro argumento bíblico diz respeito à prática judaica: os judeus não aceitavam
que um grupo de pessoas entrasse em água parada. Neste caso, mesmo que o
batismo fosse por imersão, ele só poderia
ser realizado em água corrente, e nunca em água parada, como ocorre em algumas igrejas que adotam batistérios ou água
parada. Com estes argumentos nós não queremos
desqualificar o batismo por imersão, o qual a nossa Igreja também
reconhece, mas simplesmente deixar
claro que a Bíblia não exige de modo
algum o batismo por imersão.
Cremos que o que salva não é a quantidade de
água, mas o sangue de Cristo (1Pe 1.19). Como disse certa vez um pastor
presbiteriano, "se o que lavasse pecado fosse a quantidade de água, eu só
batizaria no Oceano Atlântico". Cremos que “há um só Senhor, uma só fé, um
só batismo” (Ef 4.5), seja ele por aspersão, efusão ou imersão. Nossa igreja
reconhece o batismo por imersão e por efusão, mas batiza por aspersão por
convicção bíblica.
4. BASES BÍBLICAS E HISTÓRICAS DO BATISMO INFANTIL
Assim como acontece com a doutrina da
trindade, a doutrina do batismo infantil é bíblica, mas precisa ser discernida
no contexto geral da Bíblia. É o que vamos estudar agora.
4.1. EXEMPLOS BÍBLICOS DE BATISMO INFANTIL. A seguir, exemplos bíblicos nos quais as crianças recebem o sinal da aliança,
antes de ter idade para confessarem a sua fé.
a) A circuncisão. O Novo Testamento não fala contra
a circuncisão, mas afirma apenas que ele
é o sinal da antiga aliança e não da nova aliança. Deste modo, ela é sinal
da antiga aliança entre os judeus, mas a nova aliança em Cristo, da qual
participam não apenas os judeus, mas também os gentios (não judeus), o sinal e
selo é o batismo. No entanto, o próprio
NT estabelece uma relação íntima entre a circuncisão e o batismo (Rm
4.9-17; Cl 2.11-12).
A
circuncisão é o sinal da entrada na antiga aliança, sinal recebido por adultos
e por seus filhos, mesmo crianças (Gn 17.12; Lv 12.3).
Um
texto bíblico interessante quanto à responsabilidade dos pais de conduzir seus
filhos ao sinal da aliança é Ex 4.22-26, que afirma que Moisés quase morreu por
não haver circuncidado seu filho! O texto fala da importância dos pais
conduzirem seus filhos à fé e ao sinal da aliança. (Concordamos aqui com a
interpretação de Luis Alonso Shokel em nota sobre Ex 4.22-26: ´de uma coisa temos certeza: a importância da
circuncisão. O filho incircunciso põe em grave perigo a vida do pai, o rito da
circuncisão o salva...´.
b) Batismo do ´oikós´. Do mesmo modo que a circuncisão na antiga aliança, o batismo
é recebido tanto pelos que crêem quanto pelos seus – daí a expressão comum no
NT: ´foi ele batizado e toda a sua casa´ (At 10.2,44-48; At 11.14; At 16.14-15;
At 16.32-33; At 18.8; 1Co 1.16). A palavra casa, do grego oikós (oikov), inclui mulheres, filhos, escravos
e filhos dos escravos, de modo que o batismo
de uma casa inteira inclui o batismo de crianças. A própria
resposta de Pedro aos judeus que ouviram o sermão no dia do Pentecostes aponta
para a inclusão das crianças no batismo: At 2.38-39.
Portanto, no AT os meninos, antes de ter
fé, recebiam o sinal da aliança, que era a circuncisão. No NT o sinal da
aliança inclui não apenas o homem e seus filhos, mas também as mulheres, as
filhas, os escravos e os filhos e filhas dos escravos, que formam o ´oikós´.
Apresentamos
estes exemplos bíblicos do sinal e selo da aliança sendo recebido por crianças
para refutar um velho argumento daqueles que são contrários à prática bíblica do batismo infantil, a saber: ´Apenas os adultos, que tem condição de
tomar decisão consciente, devem ser batizados´. Este argumento já foi
refutado tanto pelo Antigo quanto pelo Novo
Testamento, como acabamos de ver. Por outro lado, afirmar que só os que já crêem devem ser batizados é um argumento
para quem entende que o batismo traz
salvação. Nós não cremos que o sacramento do batismo é que traz salvação, mas ele é sinal e selo da salvação, ordenado por Cristo a todo adulto
crente e seus filhos. Portanto, os filhos de pais crentes devem
receber o sinal da aliança, como testificam
tanto o AT quanto o NT. Além disso, se por um lado o NT não traz
um exemplo explícito de batismo de crianças, ele também não traz nem um exemplo explícito
de criança cristã que foi batizada apenas na idade adulta!
Há
ainda duas premissas que nos ajudam a compreender a necessidade do batismo
infantil. São as seguintes: a) Todos participantes no pacto da graça devem
receber o sinal de tal pacto. b) As crianças, filhos dos crentes são também
participantes do pacto da graça. Portanto, se todos os salvos devem receber o
sinal da aliança e se as crianças são participantes da aliança, logo elas devem
ser batizadas.
4.2. OUTROS TESTEMUNHOS BÍBLICOS SOBRE O BATISMO INFANTIL.
a) Paulo afirma o batismo de crianças (1Co 10.1-2). Neste texto Paulo afirma que todos foram
batizados, ou seja, todo o povo de Israel que saiu do Egito, incluindo os
homens, as mulheres e as crianças. Estes versos expressam claramente que o
NT não tem problema algum com a idéia de batismo de crianças, mas muito pelo
contrário. Alguns argumentam que o texto se refere apenas a pessoas adultas em
razão da expressão ´nossos pais´, mas não é
o caso, pois o texto inclui também as crianças, uma vez que todos, adultos e
crianças naquele momento da travessia,
são ancestrais do povo de Israel, assim como Isaque, seu filho Jacó e os doze
filhos de Jacó são tratados como patriarcas, mesmo no tempo em que ainda eram
crianças. Em Jo 6.31, por exemplo, também é dito que ´nossos pais comeram o
maná no deserto´, em referência à todo o
povo, incluindo as crianças. Portanto,
adultos e crianças foram batizados, nas palavras de Paulo.
b) Filhos de pais crentes são santos (1Co 7.14). Este texto afirma que os filhos,
que estão sob a tutela de pais crentes, são santos. E se são
santos, quem pode lhes negar o sinal da aliança, que é o batismo? Não se pode negar o sinal da aliança a um santo!
c) ´Não impeçam as crianças de
serem conduzidas à Jesus´ (Mc 10.13-16). Fica claro que as crianças foram levadas a Jesus pelos
seus pais ou responsáveis (v. 13). As crianças devem
ser conduzidas ao Senhor. Não devemos deixar as crianças sem o sinal
da aliança e sem instrução da Palavra de
Deus, pois elas devem ser conduzidas à fé! Quando adultas elas terão a oportunidade de, na sua liberdade,
confirmar a fé na qual foram encaminhadas
pela Palavra de Deus e pelo sacramento, através da pública Profissão de
Fé.
Este texto, lido ao lado de At 8.36-37,
At 10.47, At 11.17 e Mt 3.13, nos revela algo maravilhoso: o testemunho de uma antiga
liturgia batismal, onde se perguntava
se havia alguma impedimento ou embaraço (raiz grega kwluw) para que alguém fosse batizado (tese de um dos mais importantes expoentes da Teologia Bíblica do Século
XX, Oscar Cullmann). Não é
coincidência que a palavra ´impedir´ esteja presente nos diversos textos
apontados que falam especificamente sobre o batismo! Neste sentido, os
evangelistas parecem estar indicando, ao citarem esta passagem, que Jesus
autoriza o batismo de crianças. O batismo de João, por seu caráter temporário
de preparação para o messias, não batizava crianças (e nem mulheres!). Já o batismo cristão, que é definitivo e
instituído por Cristo, inclui as mulheres e crianças (o ´oikos´). E a presença da palavra grega kwluw (impedir, embaraçar)
nos textos que tratam do batismo é uma forte evidência de uma liturgia batismal
da Igreja Antiga, que testifica em Mc 10.13-16 acerca da aprovação de Cristo do
batismo infantil, quando afirma que os pequeninos não devem ser ´impedidos´ de
serem levados à Ele, ou seja, que devem ser conduzidos ao batismo!
Além disso, à luz
da ordem de Jesus de que as crianças devem ser conduzidas a Ele, os que são
contra o batismo infantil precisam lidar com o seguinte raciocínio: O batismo é um ritual eclesiástico. As crianças não podem receber o batismo. Portanto... as crianças não fazem parte da igreja! É claro que as crianças, filhas de pais
crentes, fazem parte da Igreja! E se é assim, quem ousaria impedi-las de
receber o sacramento?
4.3. ANTIGOS ESCRITORES CRISTÃOS. Calvino, grande conhecedor da literatura cristã primitiva dentro e fora do
Novo Testamento, afirma com razão o seguinte: ´A afirmação que se divulga entre o povo comum, de que uma longa série
de anos passou depois da ressurreição de Cristo, durante a qual o pedobatismo
[batismo infantil] era desconhecido, é uma despudorada falsidade, visto que não há escritor, por mais antigo que seja,
que não trace sua origem aos dias dos apóstolos´ [grifo acrescentado].
4.4. HISTÓRIA DA IGREJA. Na história da Igreja os grandes contestadores do batismo infantil foram
os anabatistas, na época do Lutero! Os grandes reformadores, inclusive Lutero e
Calvino, assim como John Knox, defendiam o batismo de crianças. O batismo de
crianças já era uma realidade na Igreja Antiga, séculos antes de Constantino! E
hoje em dia as seguintes igrejas batizam crianças: Anglicanas, luteranas,
presbiterianas, metodistas, Igreja do Nazareno, Igreja Reformada. Por outro
lado, são contrárias ao batismo infantil os Testemunhas de Jeová, os Mórmons,
os Adventistas, a maioria das Igrejas Pentecostais, a Igreja Universal do Reino
de Deus, Igreja Mundial do Poder de Deus, Igreja Internacional da Graça de
Deus.
CONCLUSÃO. Não somos nós quem temos que demonstrar que o batismo infantil está
correto, mas pelo contrário, aqueles que não batizam crianças é que devem
demonstrar, biblicamente, que o batismo infantil está errado! Pois o batismo
infantil encontra suas bases bíblicas tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, seja nos exemplos de batismo de toda a casa, seja na relação íntima
que o próprio NT estabelece entre batismo e circuncisão, seja no testemunho de
uma liturgia batismal primitiva que ilumina Mc 10.13-16, seja na afirmação da
santidade dos filhos de pais crentes, seja na afirmação do Novo Testamento que todos foram batizados na saída do
Egito... O batismo infantil não é destacado no Novo Testamento por se tratar de
assunto pacífico, assumido pela igreja
primitiva. O que daria muito trabalho, aliás, seria refutar uma doutrina
bíblica tão cara. Assim como a palavra Trindade não aparece na bíblia, mas
corresponde ao nome de uma doutrina bíblica, o batismo infantil não é destacado
no Novo Testamento, apesar de ser citado, por se tratar de assunto que não
trazia grandes discussões no seu contexto.
Pastor Marcio Marques